A elaboração de um projeto arquitetônico é um processo complexo que envolve diferentes escalas, desde a estrutura até pequenos refinamentos, como escolha de revestimentos, cores de pintura, rodapés, metais, louças e, claro, luminárias.
Para além das questões de potência e tonalidade das lâmpadas, o próprio design das luminárias também é essencial no processo de projeto, podendo contribuir com a valorização dos espaços e o conforto dos habitantes.
Hoje em dia, é impossível imaginarmos a vida cotidiana sem o uso de iluminação artificial e à medida que a tecnologia avança nos tornamos cada vez mais dependentes. Entretanto, a iluminação sempre extrapolou o plano puramente funcional, e isso pode ser visto, por exemplo, nos enormes candelabros de velas que decoravam os palácios barrocos. Sendo assim, a história da iluminação sempre entendeu esses elementos também como peças de decoração e, nos dias atuais, a situação não é diferente. Pelo contrário, somos inundados por catálogos com inúmeros modelos, tamanhos, cores e formas, uma profusão de possibilidades que, em de vez de facilitar, dificulta a tarefa de especificar as luminárias em um projeto.
Com isso em mente, apresentamos aqui algumas diretrizes que podem auxiliar nessa etapa importante de projeto, trazendo estratégias que transformam os ambientes e incitam estados de espírito. Entretanto, antes de mais nada, é importante ressaltar que cada projeto é um mergulho nas especificidades e características individuais dos seus usuários, assim, escolher um bom desenho tem a ver com o cotidiano do habitante, seus hábitos e costumes e nenhuma estratégia pode ser lida como regra geral.
Sala de jantar
Quando se fala em iluminação, a sala de jantar (ou a área relacionada à mesa de refeições) é possivelmente o primeiro cômodo que vem à mente, e não é à toa. A configuração espacial da mesa de jantar é um prato cheio para se ousar na escolha de luminárias, por isso, muitos projetos optam por designs marcantes como grandes lustres centralizados sobre a mesa. As formas variam de elementos lineares como no Apartamento Higienópolis e sua mesa suspensa, à peças amorfas como no Apartamento RBL, chegando até designs considerados mais “tradicionais”, como na mesa de jantar da Casa Villa Lobos ou da Casa Q04L63. Aqui, independente do formato, é importante tomar cuidado com a altura da luminária a ser instalada – especialistas recomendam que o início da peça esteja entre 75 e 80cm acima do tampo da mesa para criar o efeito desejado.
Sala de estar/TV
Este ambiente geralmente pede uma iluminação mais indireta, por isso, é frequentemente composto por luminárias de piso ou arandelas laterais que trazem aconchego digno de um espaço de descanso, como as discretas luminárias do Apartamento no Largo do Carmo, por exemplo. Outra estratégia muito utilizada nas salas de estar são os trilhos de iluminação, principalmente em espaços mais amplos. Nesses casos, os trilhos com spots direcionáveis conseguem criar uma atmosfera aconchegante e ao mesmo iluminar o necessário para tarefas básicas, como pode ser visto no projeto para o Apartamento 112 Sul e no Apartamento Rosa, ambos do CoDA Arquitetos. Já no caso do Apartamento RR, os trilhos escolhidos ganham destaque com o teto feito de estruturas modulares em arco, já que, ora correm em paralelo à estrutura ora perpendicularmente à ela. Uma estratégia parecida é vista no Apartamento Industrial Clerkenwell, neste caso com linhas mais ousadas. O uso de tubulações aparentes com luminárias pontuais também é uma opção interessante, principalmente quando se trata de espaços onde não existe forro de gesso como é o caso do Apartamento Flamingo ou do Apartamento Marechal, nos quais o próprio desenho da tubulação é parte importante da composição do projeto.
Cozinha
Diferentemente dos ambientes acima mencionados, a cozinha é um espaço que requer muita iluminação. Nesse sentido, são utilizadas geralmente peças lineares que ocupam grande parte da superfície do ambiente, com possibilidade de iluminação adicional nas bancadas de trabalho. Um exemplo interessante é o Apartamento GT em que, além de outras estratégias como os trilhos e spots individuais, os arquitetos utilizam o forro de gesso para criar uma abertura linear discreta na cozinha. Neste mesmo projeto, vale destacar ainda a iluminação feita sob medida para a mesa de jantar, uma peça metálica que serve como suporte para as plantas e ainda possui iluminação embutida. Já na Casa RN do Jacobsen Arquitetura, um pendente linear é escolhido para a iluminar a bancada de trabalho da cozinha. Além disso, é interessante citar que em muitos projetos de alto padrão são escolhidas para iluminação geral peças muito discretas que ficam, na maioria das vezes, embutidas nos forros de gesso ou madeira.
Quarto
A estratégia do quarto é similar à da sala de estar, sendo preferível uma iluminação periférica. Com isso, as arandelas são novamente uma boa pedida, assim como luminárias nas laterais da cama. No Apartamento Kaluá são utilizadas arandelas de diferentes modelos e não apenas no quarto, mas espalhadas em todos os ambientes como peças de design. Na Casa Atlântica e na Casa Origami a estratégia é a mesma, com a diferença de que na última a iluminação é auxiliada por spots pontuais embutidos no forro e na primeira a iluminação fica a critério apenas das arandelas.
Banheiro
O banheiro é um cômodo híbrido, já que, ao mesmo tempo que em determinadas atividades requer uma iluminação intensa, em outras a ideia é manter uma sensação de aconchego com baixa incidência. Com isso, geralmente são aplicadas duas estratégias: spots focados próximos ao espelho, tomando cuidado aqui para não criar áreas de sombra, e uma iluminação mais indireta na área do chuveiro ou, em alguns casos, banheira. Em meio as cores do Apartamento Floresta foram instaladas arandelas redondas de metal preto iluminando a área dos espelhos, mesma estratégia vista no projeto Tri Suave. As fitas de LED ocultas no mobiliário também não poderiam faltar nessa seleção, principalmente quando se trata de banheiros, como o caso do banheiro público Recinto do Bosque. Assim como em outros cômodos, uma estratégia interessante para modificar a atmosfera do banheiro é usar o dimmer como um controlador da incidência de luz.
Este artigo é parte da série Ideias para Casa, em que exploramos assuntos relacionados à vida doméstica a partir de dicas, soluções e ideias para melhorar sua residência. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.